O Muro caiu, mas o mundo continua dividido em lados. Quem presenciou a derrubada do Muro de Berlim, em 1989, relata que um espírito de incredulidade se misturava aos beijos e abraços de famílias que reencontravam.
Oriente e Ocidente viraram horizonte. Continuidade que não começa, nem termina, mas segue sempre, e, pela primeira vez na história, sem precisar saber para onde vai. Apenas segue.
Mais de vinte anos se passaram. Uma geração não viu o muro cair, ou não se lembra dele. Mas, apesar disso, o sentimento de incredulidade daquele momento não passou. A gelada Berlim ainda vive no inconsciente da humanidade.
Testemunhas do marco histórico contam que, embora não houvesse mais obstáculo físico, centenas de pessoas paravam na linha divisória do local, sem saber se avançavam ou não. Sim, pode-se entender o sentimento. Aqui estamos: 2013, com um muro que vive em nosso inconsciente. Sem saber se acreditamos que ele não existe, sem saber se avançamos.
Não há mais sistemas a serem discutidos. Há consensos e sensos comuns para tudo. O politicamente correto predomina. Os instintos foram rebaixados e substituídos por manuais práticos de tudo. Ainda estamos ou de um lado, ou de outro, por incrível que possa parecer.
Que mundo é esse que nunca aprendeu a viver sem divisórias? Por que é preciso catalogar e rotular tudo, e a todos? Confesso que me perco nesse processo. Talvez porque tenha nascido pós-1989 e sou meio “São Tomé”. Não vi o muro, logo não acredito nele. Ou algo saiu errado na minha infância, porque eu não sei viver em lados. Pra mim o mundo é um território livre, pedindo pra ser explorado. O hoje não é um lugar estático e amanhã será tudo tão diferente.
As pessoas temem avançar sobre o que acreditam ser um muro, que simplesmente não existe. Não tiram os olhos dele, mas vão recuando, recuando, e quando percebem, caíram de costas no abismo de seus medos.
O muro é confortável pois te coloca entre os iguais e protege das diferenças. Afastamos-nos do que nos faria crescer. Não nos permite mudar de ideia e isso nos dá a falsa sensação de certezas.
As pessoas se preocupam demais com as aparências e com a estabilidade. Agem pensando no futuro. Traem-se para garantir continuidade. Estou muito feliz onde estou e como estou, mas só consigo pensar que se daqui um, quatro, ou cinco anos não estiver mais aqui, é porque tudo deu certo. Por que esse medo de tentar? Seguimos, pois os obstáculos são colocados por nós e nossas convicções que teimamos em defender.
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