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sábado, 28 de setembro de 2013

Barquinho de papel

Lembrei de um texto que li certa vez, cujo autor era desconhecido. Chamava-se “A Síndrome dos vinte e poucos anos”. Naquela época, eu ainda não tinha vinte e poucos, e achava que nada faria sentido nunca, ao menos não pela pessoa que via a vida me transformando. Ainda estou mais próxima dos vinte do que ‘dos poucos’, mas tudo faz sentido. Fiquei pensando nisso essa semana.
 Estava sentada na parada do ônibus esperando ir para a Unisinos. Tinha trabalhado o dia todo, resolvido um monte de coisas que exigiam respostas rápidas e ações. Minha cabeça estava dividida entre a lista de coisas que precisa organizar mentalmente para produzir no dia seguinte, a aula daquela noite, e o cronograma de trabalhos para entregar nas próximas semanas, tudo com seus prazos, contando os dias, horas e minutos para conseguir deixar tudo pronto com antecedência, ou o que daria para enrolar, até o prazo limite.
Começou a chover. Eu já estava reclamando sozinha de como não parava nunca de chover, e sempre no horário da saída, e que eu iria me molhar, e ficaria com os pés molhados até depois da meia noite, por causa dessa droga de chuva, dessa droga de distância, dessa droga de vida. Mas a chuva, apesar de recorrente nos últimos dias, estava tão bonita! A rua em frente à parada do ônibus tem um declive bem acentuado, e logo acumulou bastante água no asfalto. Era o cenário perfeito.  Minha vontade era de arrancar uma folha de caderno e fazer um barquinho de papel. Por quê? Não sei, mas a vida estava navegável naquele instante.
 Não fiz o barco porque ele ficaria lá, a chuva passaria, e viraria apenas mais um lixo jogado na natureza (não havia lixeira próxima). Mas, mentalmente, vi meu barquinho navegando. Vi os carros passando e levantando água. Fiz até uma rima pra ele: “meu barquinho ia, ia, ia/ veio um carro e acabou a poesia.” Sorri com a rima.
Estou escrevendo isso, e não sei se faz algum sentido, para alguém, mas pra mim, é o resumo de tudo. Um barquinho de papel e uma rima inocente, competindo com a vida adulta que temos que levar a partir de algum momento.  Gosto de levar uma vida séria. Sempre me cobro muito. Sempre cobro que os outros se deem um pouco mais. Mas, é a poesia, sem rimas e sutil, de momentos assim que realmente me faz sorrir.