Lembrei
de um texto que li certa vez, cujo autor era desconhecido. Chamava-se “A
Síndrome dos vinte e poucos anos”. Naquela época, eu ainda não tinha vinte e
poucos, e
achava que nada faria sentido nunca, ao menos não pela pessoa que via a vida me
transformando. Ainda estou mais próxima dos vinte do que ‘dos poucos’, mas tudo
faz sentido. Fiquei pensando nisso essa semana.
Estava sentada na parada do ônibus esperando
ir para a Unisinos. Tinha trabalhado o dia todo, resolvido um monte de coisas
que exigiam respostas rápidas e ações. Minha cabeça estava dividida entre a
lista de coisas que precisa organizar mentalmente para produzir no dia
seguinte, a aula daquela noite, e o cronograma de trabalhos para entregar nas
próximas semanas, tudo com seus prazos, contando os dias, horas e minutos para
conseguir deixar tudo pronto com antecedência, ou o que daria para enrolar, até
o prazo limite.
Começou a
chover. Eu já estava reclamando sozinha de como não parava nunca de chover, e
sempre no horário da saída, e que eu iria me molhar, e ficaria com os pés
molhados até depois da meia noite, por causa dessa droga de chuva, dessa droga
de distância, dessa droga de vida. Mas a chuva, apesar de recorrente nos
últimos dias, estava tão bonita! A rua em frente à parada do ônibus tem um
declive bem acentuado, e logo acumulou bastante água no asfalto. Era o cenário
perfeito. Minha vontade era de arrancar
uma folha de caderno e fazer um barquinho de papel. Por quê? Não sei, mas a
vida estava navegável naquele instante.
Não fiz o barco porque ele ficaria lá, a chuva
passaria, e viraria apenas mais um lixo jogado na natureza (não havia lixeira
próxima). Mas, mentalmente, vi meu barquinho navegando. Vi os carros passando e
levantando água. Fiz até uma rima pra ele: “meu barquinho ia, ia, ia/ veio um
carro e acabou a poesia.” Sorri com a rima.
Estou escrevendo
isso, e não sei se faz algum sentido, para alguém, mas pra mim, é o resumo de
tudo. Um barquinho de papel e uma rima inocente, competindo com a vida adulta
que temos que levar a partir de algum momento.
Gosto de levar uma vida séria. Sempre me cobro muito. Sempre cobro que
os outros se deem um pouco mais. Mas, é a poesia, sem rimas e sutil, de momentos
assim que realmente me faz sorrir.
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