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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Pedacinhos



Recolhi todos os posts do último ano e os organizei aqui. Agora é só encaixar os pedacinhos e compor a linha do tempo. Sem ordem, sem cronologia, sem o contexto. Agora são só pedacinhos... Livres para construirem outras histórias.


Há algum tempo fui fazer uma pauta em uma escola. Foi durante uma festividade que envolvia os alunos, pais e professores, como culminância de um projeto. Já estava lá há algum tempo, já havia conversado com a direção, com professores, com alunos de diferentes idades e com os alguns pais. Já havia visitado toda a Instituição, visto os trabalhos expostos, a ornamentação. Enfim, já tinha subsídio para uma boa matéria. Então parei um pouco e fiquei observando. Comecei a reparar nas expressões, acompanhar a direção dos olhares, tentar entender minimamente as relações que se estabeleciam para que aqueles pequenos grupos se formassem. Por puro costume, tirei o bloquinho do bolso, peguei a caneta e comecei a anotar coisas, sem notar, no entanto, que nesse momento eu própria estava fazendo conexões, atraindo alguns olhares e estava "ausente" do restante. Foi quando olhei para o lado e vi uma menina, uns sete ou oito anos, com um lápis mordido na mão, e um pedaço de papel, resto de algum recorte, dobrado em quatro partes para que facilitasse a escrita com o grafite sem perfurá-lo. Quando meus olhos encontraram com os dela, a pequena mordeu timidamente o canto do lábio inferior e depois, se enchendo de coragens e sorrindo disse: “Quero ser como você!”.
Falamos de ética e postura profissional. Lutamos contra nossas limitações, sejam elas de tempo, de espaço, de imparcialidade. Nos preocupamos com tanta coisa infundada que às vezes esquecemos do que realmente importa: para quem e por quem fazemos tudo isso.
Então, o repórter não existe só por trás da reportagem. O repórter está na construção que fazemos dele. Está no exemplo. Está na inspiração.
Só queria dividir isso.
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E então, ela parou de sentir saudadas das tardes em que a ausência dele costumava apertar o peito. As quintas-feiras deixaram de ser dias de sufocante angústia pela falta. Ela não liga mais. Ela não senta mais na mesma pracinha. Não ouve mais as mesmas músicas que dizem sempre as mesmas coisas que pretendia esquecer. Ela não rabisca palavras bonitas no bloquinho de papel, para ter o que dizer, já que costumava ficar tão embaraçada com a sua presença quanto a com a sua ausência. Nessa história ele não é mais o personagem principal - é ela. Ela não mais tanta coisa... E, ao mesmo tempo, ela, agora sim, tudo!
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Perdi teu número entre os rabiscos e poemas que escrevi em meu bloquinho. Não tentarei procurá-lo porque para isso seria obrigada a reler todos os versos e lembrar do beijo que me inspirou a escrevê-los. O número ficará lá, cercado pelas palavras que queria ter te dito e que agora, por orgulho, não direi.
P.S. É só isso.
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Hoje quando afastou a cortina da janela sentiu uma estranha sensação. O dia tinha uma luz incrivelmente bela e nos outros 364 dias do ano teria lhe rendido belas fotografias. Mas hoje não. Sua alma estava como se acabasse de captar o ângulo mais sublime da paisagem mais perfeita da meia estação, mas não era em foto que pensava. Só queria poder dizer a ele isso. Queria poder contar-lhe que acorda todos os dias lembrando-se do contato suave do seu toque. E que abra a janela toda manhã na esperança de sentir na brisa sua presença. Só queria poder dizer-lhe tudo isso, porque toda vez que o céu se apresenta com uma luz perfeita, ela se lembra do beijo -sorriso, único e inconfundível, que só ele possui. Como numa foto.
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Começou o mesmo livro dezenas de vezes. Parou. Viveu um pouco mais. Voltou a escrever. As frases, no entanto, não lhe pareciam boas. Pontuava bem e bastante. Gostava da vida desse jeito: sentenças curtas e diretas. Pausas. Poucas conversas. Mas nesse momento, talvez o mais assustador e bonito de toda a sua composição, não eram nas anotações resumidas e garranchadas que estavam suas histórias. Descobriu então que o problema não estava na forma com que as palavras ganhavam vida sob o papel, mas na essência. Pela primeira vez não sabia o dizer.
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Deixou fluir o espírito em estado bruto que habitava dentro dela desenrolando um pensamento infinito em forma de espiral que não parava não começava e seguia sempre sem direção sem ligação assim como tudo o que aconteceu onde tudo poderia ter acontecido e se tivesse deixado viver o medo e assim mesmo continuado para qualquer direção apenas andando em passos dançados e flutuados sob chuva fina descendo ladeira para sempre sem cadência solto sem ponto nenhuma pausa leve leve leve para longe. Parou de repente. Mas poderia seguir... Para sempre.
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Cedo ou tarde todos encontram seu caminho, mesmo que esse caminho seja continuar caminhado, para sempre. Seguir em frente.
Cedo ou tarde todos encontram seus espaços. Conquistam os vazios que estavam esquecidos. Desbravam os pouco habitados. Reconquistam os perdidos.
Cedo ou tarde todos acordam. Depois voltam a dormir. Ou ficam se policiando para não cochilar de novo, porque cedo ou tarde tudo muda e é bom não se perder no jogo.
Cedo ou tarde chegará o momento em que não será nem cedo, nem tarde, e aí... Bom, aí algo guiará – sejam os sonhos, sejam os planos, tudo o que deixamos pra trás, o que esperamos encontrar pela frente.
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Me encanta todo aquele que deixa aflorar na voz a sua paixão, seja lá qual for; me encanta aquele que transmite no olhar a emoção por aquilo que faz; porque esses fazem com verdade e são a verdade de tudo o que fazem.
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Olha ai o Sol. Ele não merece esse post mais do que as nuvens escuras de hoje pela manhã. Mas, olha ai o sol: fazendo lembrar que se vive em ciclos, que as coisas mudam, vão, voltam... Nos embalam... Nos engrandecem.
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Gente ignorante criticando a ignorância é o que mais tem por ai. Como seria bom se as pessoas se lembrassem de que não se constrói futuro sem respeitar o passado. É simples assim. Somos resultados incompletos, somas longas de numerais decimais. Somos a mistura e o que temos de mais puro. Somos o querer fazer mudar e o valorizar o que fizeram por nós.
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Não aprendi a gostar pela metade; a fazer pela metade; a aceitar as pessoas com suas escolhas pela metade...
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Nos sentimos pequenos quando a força da natureza nos obriga a escrever mais notas sobre a situação do tempo do que sobre as pessoas; nos sentimos impotentes quando ela se impõem e deixa suas marcas; nos sentimos nulos quando percebemos que mesmo com nossa pequenez e impotência, insistimos em transformar o momento em um debate tolo de medição de poder. Chovia muito ontem, a exemplo do que foi a última semana, mas, já que estava na chuva, não pude deixar de ficar admirando: a natureza, tão poderosa, com uma força tão devastadora...Assusta porque tem o controle total de sua beleza. Fiquei parada, só olhando. Não podia fazer mais nada, além de registrar esse momento. Tanta força, e aquela brisa tocando leve meu rosto. Só poço agradecer por me fazer lembrar o como somos frágeis e vulneráveis.

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