Sempre quis usar óculos. Desde criança. Pra mim, óculos era
um enfeite no rosto das pessoas. Um brinquedo de gente grande, mas que algumas
crianças com sorte ganhavam.
O tempo não matou meu desejo de óculos. E não adiantava os
solares. Eu queria mesmo era grau, com suas armações coloridas. Seus formatos
curiosos. Óculos deixavam as pessoas mais nobres.
Na faculdade sofri um pouco de bullying. No curso de
jornalismo, por alguma razão, a maioria dos meus colegas usavam óculos. Quase não
percebia as armações nos rostos deles, pois eles eram extensões dos corpos.
Chegou um dia em que meus olham cansaram um pouco. Continuo enxergando
bem. Reconheço as pessoas na rua, leio as placas de sinalização e livros no
deslocamento de ônibus. No entanto, durante o dia, levanto algumas vezes a mais
da frente do computador, tomo mais água ou café como pretexto para parar a
escrita no meio da tarde. E, no fim do dia, meus olhos pedem uma pausa.
Descobri que os olhos refletem mais do que as imagens que
vemos. Os olhos falam por nós quando o corpo está cansado. Cansado de ver o tom
cinza do mundo. Do preto desenhado sobre o branco. Da hipocrisia de quem não
sabe ver, não por não ter olhos, mas por não deixar-se contagiar.
Agora tenho uma receita para óculos. Meio grau, apenas para
descanso. Minha receita está guardada no meio da agenda, desde janeiro. Já se
passaram oito meses, mas ainda não pisei na ótica.
Essa é apenas mais uma dessas loucuras que temos na vida. Quis
tanto usar o óculos, que quando o tiver, não saberei mais o que desejar. Ou talvez
não seja isso. Talvez seja preguiça mesmo, de ir lá escolher uma armação. Ansiedade
de criança entrando na loja de brinquedos.
Ainda estou pensando se serei mais séria com meu óculos, ou
se as crianças vão achar graça. Só sei que com o sem óculos, o mundo é lindo.
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