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sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Óculos

Sempre quis usar óculos. Desde criança. Pra mim, óculos era um enfeite no rosto das pessoas. Um brinquedo de gente grande, mas que algumas crianças com sorte ganhavam.
O tempo não matou meu desejo de óculos. E não adiantava os solares. Eu queria mesmo era grau, com suas armações coloridas. Seus formatos curiosos. Óculos deixavam as pessoas mais nobres.
Na faculdade sofri um pouco de bullying. No curso de jornalismo, por alguma razão, a maioria dos meus colegas usavam óculos. Quase não percebia as armações nos rostos deles, pois eles eram extensões dos corpos.
Chegou um dia em que meus olham cansaram um pouco. Continuo enxergando bem. Reconheço as pessoas na rua, leio as placas de sinalização e livros no deslocamento de ônibus. No entanto, durante o dia, levanto algumas vezes a mais da frente do computador, tomo mais água ou café como pretexto para parar a escrita no meio da tarde. E, no fim do dia, meus olhos pedem uma pausa.
Descobri que os olhos refletem mais do que as imagens que vemos. Os olhos falam por nós quando o corpo está cansado. Cansado de ver o tom cinza do mundo. Do preto desenhado sobre o branco. Da hipocrisia de quem não sabe ver, não por não ter olhos, mas por não deixar-se contagiar.
Agora tenho uma receita para óculos. Meio grau, apenas para descanso. Minha receita está guardada no meio da agenda, desde janeiro. Já se passaram oito meses, mas ainda não pisei na ótica.
Essa é apenas mais uma dessas loucuras que temos na vida. Quis tanto usar o óculos, que quando o tiver, não saberei mais o que desejar. Ou talvez não seja isso. Talvez seja preguiça mesmo, de ir lá escolher uma armação. Ansiedade de criança entrando na loja de brinquedos.
Ainda estou pensando se serei mais séria com meu óculos, ou se as crianças vão achar graça. Só sei que com o sem óculos, o mundo é lindo.

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